Tortura do pensar! Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hidra num momento!
E não se quer pensar!... e o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós...
Querer apagar no céu - ó sonho atroz! -
O brilho duma estrela com o vento!...
E não se apaga, não... nada se apaga!
Vem sempre rastejando como a vaga...
Vem sempre perguntando: "O que te resta?..."
Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!
Florbela Espanca
2 comentários:
UTOPIA DE PUNHO ERGUIDO
Não suporto mais este aperto
que lentamente vai tomando conta,
vai degolando tudo o que me é mais querido.
Qual astronauta petrificado em óleo de rosas,
qual sereia errante idealizada em vaselina.
O meu poder desvaneia-se, a minha graça perde-se,
as ilusões precedem-se,
a morte vai anseando,
Os abutres rezando
e tu chorando sob injustas convulsões,
sozinha…
Pescando e sussurando, impérios caem e
lágrimas constrangedoras lá vão suspirando,
em doce, sereno vazio…
Rituais negros, regozijo da vitória, ética para tolos,
serei eu, sempre!
A minha sofridão é o meu legado,
as minhas obras a prova e o testamento
de que cá estive, critiquei, gostei e voltarei sempre…
Isto antes que o espelho se comece a enganar,
os músculos a contradizer,
a imagem a desaparecer
e a mente a cuspir o seu eterno sangue de revolta
de quem nunca está completo, mas sempre grato!
Desprezo influências, apesar de inevitáveis,
odeio maiorias porque nunca estão correctas.
Vou comer maçãs podres,
tragar feijoada à Alentejana antes do banho,
secar com o secador o cabelo na banheira
e masturbar-me em público;
nem que seja apenas para irritar, desafiar,
quebrar estereotipos, matar os preconceitos.
Loucos? Porque não? Todos os génios o são!
Milhões de joelhos vão lambendo as migalhas do intragável,
eu, rastejando, vou buscando musas incontestáveis.
Mostra-te, não tenhas medo, o mundo é mesmo assim,
tens que criar algo para teres medo do perder...
2001
in sem-nome e mal-dito (S&M)
www.motoratasdemarte.blogspot.com
Deixo-te um estranho abraço, menina
por onde me passam os olhos directos ao coração.
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