segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Do lado de cá
"É noite. A noite é muito escura. Numa casa a uma grande distância
Brilha a luz duma janela.
Vejo-a, e sinto-me humano dos pés à cabeça.
É curioso que toda a vida do indivíduo que ali mora, e que não sei quem é,
Atrai-me só por essa luz vista de longe.
Sem dúvida que a vida dele é real e ele tem cara, gestos, família e profissão.
Mas agora só me importa a luz da janela dele.
Apesar de a luz estar ali por ele a ter acendido,
A luz é a realidade imediata para mim.
Eu nunca passo para além da realidade imediata.
Para além da realidade imediata não há nada.
Se eu, de onde estou, só veio aquela luz,
Em relação à distância onde estou há só aquela luz.
O homem e a família dele são reais do lado de lá da janela.
Eu estou do lado de cá, a uma grande distância.
A luz apagou-se.
Que me importa que o homem continue a existir?"
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
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3 comentários:
Olá Menina Filipa,
Como sempre, o teu Miocárdio, pulsa para além do normal!
São poucos os que se preocupam com os que estão do lado de lá.
Aprendi contigo a gostar de Fernando Pessoa.
Excelente foto. Adorei.
Um grande abraço
:)) Abraço bem apertado para a Ilha ;) Senhor do Mar.
A fabulosa decadência!
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